sexta-feira, 17 de julho de 2020

Especial TalkBack 9.0 senta que lá vem História




Adicionar legendaDescrição, fundo roxo com o logo da suite de acessibilidade do google e um testo escrito especial talkback em letras letras roxo escuro e branco esuro roxsa
Há muito tempo atrás uma desenvolvedora independente de software mobile lançou um APP que iria revolucionar o mundo da acessibilidade levando a inclusão de pessoas cegas ao também recém nascido Android. O Symbian ainda era unanimidade entre os deficientes visuais, a Nokia já tinha lançado o seu Nokia Screemrader e os produtos da Coldfacture já existiam tanto para Symbian quanto pra BlackBarry. 
Até este momento o autor desse artigo disponibilizava gratuitamente todos esses programas, quer fossem através deste blog, quer fosse pessoalmente e um dia escreverei aqui esse trecho dessa história, ou melhor, Rei escreverei. 
A Apple já havia lançado o Voiceover, que aliás já saira impecável no IPhone 3g e foi uma festa quando saiu a atualização que trouxe o recurso, porem, no Android ainda não existia nada até que uma empresa chamada Eyes Free apareceu. Para muita gente na época era bem difícil aceitar que elas, totalmente cegas, poderiam usufruir satisfatoriamente de dispositivos com tela touch, a ideia de se sair de um Nokia para uma Apple era muito difícil de se supor e em muitos casos era preciso todo um convencimento. 
Muitos amigos queridos me falavam na época que eu só utilizava esses dispositivos porque eu tinha baixa visão e foram muitas as vezes em que deixei as pessoas maravilhadas pondo os aparelhos nas mãos delas e mostrando que era fácil de usar. Ainda assim já haviam muitos e muitos cegos utilizando telas de superfície plana, utilizando e programando, tanto que se não me falha a memória a tal Eyes Free era formada por apenas dois caras e ambos eram cegos. 
É uma pena que hoje em dia nem seus vídeos da época possam ser encontrados no YouTube, uma lastima pois minha memória não é tão boa assim para nos guiarmos apenas por ela. Escrever a História de qualquer seguimento e algo bem complicado, principalmente quando nos sentimos parte dele, portanto fiquem a vontade para me corrigir caso eu erre alguma versão, informação e afins, afinal existe uma grande diferença entre os fatos e a memória afetiva que por vezes guardamos deles.
 As primeiras versões do software apareceram no Android 1.5, a usabilidade melhorou no Android 2.6 mas foi somente a partir do Android 4.0 que o TalkBack passou a ser relevante no que diz respeito à leitura de tela. 
Como vocês puderam perceber o desenvolvimento do leitor não foi tão instantâneo quanto o dos outros sistemas, algo bem compreensível já que diferente dos demais, o TalkBack não possuía nenhuma grande empresa ou governo por trás. Inicialmente ele precisava ser baixado na antiga Marketplace, hoje em dia Play Store, ou por aí via APK, cujo nome era Soudback e ainda guardo comigo várias versões dele com essa nomenclatura. 
Viraram peças do meu museu particular dentro dos meus muitos DVDs de software em meus muitos estojos de dados. 
Quando a versão 4.0 saiu o Android deu um salto gigantesco em acessibilidade, com uma abordagem totalmente original, gestos muito diferentes como os famosos L, o novo e remodelado leitor de telas abria agora todo um novo mundo de possibilidades, usuários de IOS estranhavam inclusive a ponto de odiar mas depois de um tempo a prática ia mostrando como o TalkBack era muito mais prático em muitas coisas. 
Em Setembro de 2012 fiz um apanhado com muitos artigos que repercutiram essas novidades e também fiz meus testes, coloquei muita coisa no MegaUploud que como vocês devem imaginar foram completamente perdidas, ainda assim, sobrou uma postagem daquela época para vocês sentirem o gostinho da expectativa que rolava, é só clicar aqui e curtir.

A Google havia lançado o Android 4.0 no final de 2011 época em que eu recém havia comprado o Motorola Milestone 2 que vinha com o Android 2.6 embarcado, sem possibilidade de atualização do sistema sequer para o Android 3, quanto mais para o 4. 
Mas que aparelho minha gente! 
Experimentei de tudo nele, de software hackers passando por emuladores de todo o tipo de videogames, players incríveis, editores de tudo, personalização, enfim, literalmente revirei o sistema e o hardware mas naquele momento a instabilidade da acessibilidade da Apple venceu e fui forçado a voltar para a prisão. 
Um downgrade que não me deixava totalmente triste afinal de contas estamos falando de um Apple, ou seja, estamos falando de um produto de excelente qualidade porém ainda assim era um dowgrade, um dowgrade de luxo mas, dowgrade. 
A versão de 16Gb de um iPhone 4S não saía por menos de r$ 1900, era Apple sendo Apple, então descolei um iPhone 3GS novinho por incríveis r$ 900 à vista, outros tempos né. 
Passei pouco mais de um ano ainda com aquele 3gs e nesse tempo fiquei acompanhando os relatos dos amigos de Portugal e também de alguns brasileiros porque apesar da Google já estar com um bom sistema e uma boa acessibilidade nele, este sistema ainda não possuía síntese de voz em português do Brasil. 
Sim, exatamente jovem, eu sei que é difícil imaginar o mundo sem a voz da mulher do Google mas ele existiu. 
Muitos deficientes visuais que falavam nosso idioma testava o TalkBack em inglês, outros instalavam o Pico TTS para utilizar os aparelhos em espanhol mas pt é pt-br não. 
Dê minha parte pude optar por uma terceira opção, ainda em 2011 comprei a única voz em pt-br disponível na Google play, o pacote Svox com a voz da Luciana. Ocorre que na metade de 2013 toda a imprensa especializada passou a falar muito da síntese de voz que iria ser lançada para integrar o Android, várias matérias tratando dos usos e possibilidades, oogle maps com fala, GPS, agenda e e logico a conversão de testo em voz, foi o primeiro tiro em meu 3GS. 
O segundo e definitivo tiro foi dado no final de 2013 pela Motorola e meu 3gs não resistiu. Os caras lançaram um aparelho no Brasil com configurações e preços que foram verdadeiramente históricos, mais que isso, o Android do dispositivo era praticamente puro e as poucas adições feitas pela Motorola eram de fato adições, ou seja, coisas que realmente melhoravam esperiencia do usuário e o sistema como um todo. 
Quer mais? 
A Motorola já estava a pouco tempo nas mãos do Google, quer dizer, em termos de mercado havia altas expectativas, além do mais, em termos do Brasil o que essa empresa fez na época foi surpreendente, o aparelho deles teria seu lançamento mundial a partir do Brasil, o que também revela muito sobre o potencial brasileiro de mercado além é claro da visão ainda positiva nossa, bem, como eu já disse, outros tempos né cara? 
Os aparelhos em questão eram os lendários Moto G, sim, lendários e é uma pena que muitas daquelas boas práticas acabaram se perdendo no tempo e foi assim que com o Android 4.2, acessibilidade plena, voz em pt-br, não deu outra, lá estava eu de volta ao Android e dessa vez iria levar uma galera junto comigo. 
Já no final de 2013 criei a primeira versão do TTS Help no WhatsApp, que depois mudaria para TTS Help e diversidade e muita gente querida e boa passou por lá, algumas inclusive já foram até morar no céu, saudades... 
No início muita gente utilizava ainda aparelhos com Talks, o que era muito engraçado porque como as licenças do leitor não eram originais a maioria tinha que dar um jeitinho pra acompanhar o grupo, tipo assim, se você entrasse em uma conversa nada lá era lido mas se você ficasse somente em cima da conversa poderia ler a última mensagem recebida. 
Muita gente não utilizava Android porque achava que nele também precisaria pagar por algum tipo de licença cara e eu demorei pra sacar o porquê. 
Mesmo com todas essas evoluções o TalkBack ainda não vinha por padrão nos celulares e Tablets, nem o mecanismo de testo para voz vinha e tudo isto precisava ser instalado, e pasmem, haviam profissionais cegos que cobravam as vezes até mais de 100 reais para fazer a instalação. 
Cegos esporando cegos, o homem sendo o lobo do homem. 
Fiquei procurando uma forma de ajudar sem arranjar inimizade com ninguém, afinal de contas muitos desses lobos eram meus conhecidos e foi então que fiz o óbvio, ensinei as pessoas a lutar por seus direitos, sair de uma loja com o aparelho falando passou a ser um ponto de honra para mim, afinal isso era inclusão. 
Então eu passei a fazer mais ou menos assim, antes da pessoa ir a uma loja, eu instruia ela a só comprar do vendedor depois que a loja entrasse na Play Store e baixasse dois pacotes, o TalkBack e a síntese de conversão de testo em voz. 
Somente quando a pessoa por algum motivo não se sentia a vontade é que eu as acompanhava nas lojas, fiz amizade com muitos vendedores e vendedoras na época, eles ficavam muito agradecidos porque querendo ou não eu acabava treinando os caras para algo na qual não havia treinamento e muitos deles ficaram craques em vender coisas para cegos. 
Ensinei e fui com muita gente mesmo nesses lugares até que um dia uma amiga me contou que ouviu um dos lobos reclamar que eu andava roubando clientes, que provavelmente eu estaria cobrando bem pouco e desvalorizando a profissão e que um dia alguém iria me dar umas porradas, vejam só vocês. 
Minha amiga me contou que quando falou para ele que eu não cobrava o cara ficou resmungando e que ela havia se levantado pra sair antes que ele pudesse falar qualquer coisa.
 [Ela então perguntou o que eu achava e então euv respondi, 
Windows Phone Mobile. 
Se uma pessoa sem deficiência pode comprar qualquer coisa de uma loja e sair utilizando nós também temos esse direito e nada de ficar pagando um preço adicional por isso. 
Esse é o legado de caras como Michael Curran, o legado do NVDA, do Orca e que depois apareceu na Apple. Esse era o padrão que iria ser também aplicado aos poucos no Android mas eu já tava de olho em outro sistema que estava nascendo. 
Usuário de Ubuntu desde 2010 fiquei muito animado com as coisas que andava lendo sobre o Windows, tanto na plataforma tradicional quanto nessa nova empreitada, note que momento bacana que caras como eu puderam usufruir, de um lado o Google com a Motorola e do outro a Microsoft com a Nokia e não deu outra, depois de pouco mais de um ano no Android juntando amigos, pedindo por mais acessibilidade nas lojas das gigantes, estimulando a galera a também reclamar, eu, no início de 2015 viro betatester da Microsoft, coloco o Windows 10, que ainda era um esqueleto, como meu sistema secundário, compro um Lumia 640DTV e saio do Android por mais um ano e meio. 
Um dia conto melhor essa história também mas se você quiser saber a quantas estava a acessibilidade do Windows 10 Mobile da só uma olhada nesse vídeo, infelizmente o único em língua portuguesa até os dias de hoje. 
O Windows 10 Mobile foi uma grande perda para os cegos e a grande maioria de nós nem ficou sabendo disso. 
No meio de 2016 voltei para o Android mas não com a mesma alegria de antes, agora, Google e Apple estavam tomando conta e de consumidor eu agora me sentia mais refém do que qualquer outra coisa,. 
Em menos de um ano e meio as duas gigantes se erguiam por entre os destroços de Symbian, Windows Phone, Firefox OS, Ubuntu Touch dentre outros. 
Nem no Linux as coisas andavam bem, como era possível que de uma hora para outra nossas opções fossem tão reduzidas, que nossa liberdade de escolha fosse tão limitada justamente em um momento em que a acessibilidade parecia estar indo tão bem? 
Aparências meus caros, aparências. 
Calculem comigo, em 2010 tínhamos acessibilidade plena no Linux, no Mac OS X, no Windows (não nativa), no Solares, nos Nokia(não nativa) e no IPhone, agora já em 2016 tínhamos acessibilidade no Mac OS X, no Windows 10 (nativa ainda parcial), no Linux, no iOS,e no Android, agora faça os cálculos. Perceba o que eu percebia em 2016, dois sistemas deixaram de existir e mais quatro deixaram de acontecer, somente a Google conseguia eliminar sozinha 3 sistemas e duas fabricantes e a Apple, bem a Apple depois da morte do Jobs ampliou ainda mais seu conceito ostentação, o cara morreu, virou um mito e a empresa bota o preço da bagaça nas estrelas, a Apple também foi a única empresa das já citadas a ter sido acusada de se beneficiar de mão de obra escrava lá na China. Dê todas as empresas essa foi a que mais decepcionou porque não parou por aí. 
O primeiro iPhone SE foi uma piada de péssimo gosto com a Apple claramente reaproveitando peças e reciclando tecnologias, depois, os caras ainda iniciaram um ciclo de exclusão de opções no IPhone 7 que, capado de uma entrada (opção), também chegava no mercado ainda mais caro, um ciclo de diminuição de opções e aumento de preços que aliás duram até os dias de hoje. 
Se. Fosse um filme Hollywoodiano esse caras perderiam no final mas isso aqui é a vida e na vida real os impérios levam mais tempo pra ruir, precisa muito trabalho honesto e rebelde para as coisas acontecerem, quer dizer, não é que eu não curta Apple ou nunca mais vá utilizar, nada disso, eu simplesmente não compro mais da Apple o que a Apple vende sacou? 
Elas são um sucesso de mercado, batendo recorde e tal mas suas bases estão calcadas atualmente na idolatria de uns e na miséria de outros e com bases como estas ou a maçã muda ou simplesmente vai cair de podre. 
Mas e o TalkBack? Como ele estava em 2016? 
Então, a cada versão ele se tornava cada vez mais do Google mas neste ano o leitor ainda levava esse mesmo nome, a grande novidade de 20016 foi a opção toque para falar, uma parada genial ainda muito pouco utilizada pelo seu público alvo, note que recentemente andei demonstrando ela no canal TTS Supremo na esperança de que mais pessoas conheçam a função e peçam ainda mais implementações nela.
 Aqui você pode curtir o conteúdo sobre o toque para falar .
 uma outra coisa que finalmente havia mudado no talkback foram os seus sons de coordenada, cara esses sons eram muito ruins, inclusive a própria voz do Google recebeu melhorias naquele ano, faltava agora melhorar a digitação por voz, mano que troço sofrido, tá aí uma coisa que eu sentia muita falta no Android quando saí da Apple em 2014, o ditado deles era fantástico. 
Em 2017 o TalkBack foi totalmente incorporado pela Google passando a integrar a suíte de acessibilidade dos caras e depois de um tempo a própria digitação por voz recebeu melhorias realmente incríveis a ponto de superar o ditado da Apple em VÁRIOS casos. A integração com outros produtos como o tradutor davam ao leitor um grande poder de fogo mas aqui também estamos tendo problemas atualmente. A acessibilidade parece estar dando alguns sinais de cansaço em 2020 mas nós não podemos nos permitir descansar, precisamos continuar ajudando de alguma maneira, pedindo, indicando, apontando erros, elogiando acertos e etc. 
Os sistemas operacionais estão em constante evolução e seus leitores de tela precisão acompanhar essas mudanças sem descartar as vitórias já alcançadas. 
No vídeo abaixo converso um pouco sobre o talk back e divido com a comunidade visual todas as melhorias e evoluções que acredito que ele deva passar nos próximos anos, mais que isso, quero sugerir a todos vocês a também mandar suas sugestões de melhorias, não só para o google mas também para a Apple, Microsoft, Sony, Gnome, enfim, para todos que de alguma maneira possam fazer com que a nossa amada inclusão se perpetue como uma verdade natural e não como uma árdua luta diária. 
Quero tambem te convidar para ouvir o setimo episodio do podcast "inclua-me" onde abordo de maneira um pouco mais descontraida todas essas questões. 
Tentei resumir em um artigo uma década inteira de História e como vocês perceberam não se tratou da história de um softwere, se tratou da história de vida de muita gente, de uma história rica em força de vontade e superação por que a história do TalkBack é muito parecida com a do NVDA e a do Orca. São Histórias onde as barreiras são transpostas com a inteligência, criatividade, curiosidade e determinação. Uma história rica e profunda, uma história sobre o mundo que vivemos e o mundo que queremos. 
Uma história sobre nós. 
Obrigado por ter lido esse testo, bom video e pom podcast pra todo mundo, minha opinião está a dada aqui mas não esqueça que sem as suas opiniões e ações nada acontece, voltem sempre...

Acompanhe o video abaixo:


Escute o podcast "Inclua-me" em sua plataforma preferida.

Spotify:
https://open.spotify.com/show/4OaD6AzFANJR8JP00KPxG8?si=D6_fXU23Sw-6SbWmn1tEbQ

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Youtub:
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