quinta-feira, 23 de março de 2023

O que aprendi dentro de uma telefonia

Descrição da imagens, arte contendo ao fundo uma visão aeria de varias mesas de tele atendimento, a predominancia da cor da imagen de fundo é o azul, minha imagen  esta a frente dessa visão aeria, sou branco, oculos escuros, cavanhaquee cabelos castanhos, ambos já bem grisalhos, e uso camiseta preta, na arte se le a frase, o que aprendi com a telefonia, fim da descrição.


 

Em 2022 encerrei  uma saga de mais de 15 anos trabalhando em hospitais, e desses, quase 11 foram ligados a telefonia.

Uma profissão que está sendo extinta desde os anos 90 mas que ainda está por aí, dando emprego para muito deficiente visual.

Eita bichinho ruim de morrer esse né!

Nesse texto quero abordar com vocês a experiência que tive implementando a acessibilidade digital em um setor desses.

As ferramentas utilizadas para adequar a acessibilidade a realidade da entidade.

 As ferramentas atuais e também a sombra desse fim apocalítico de uma profissão, o tipo de pensamento que impede a pessoa de pensar no assunto, afinal de contas quem quer perder tempo com uma profissão que está sendo extinta, não é mesmo?

Vamos hoje falar um pouco sobre esses erros e acertos que perneiam essa nobre profissão a qual tanto carinho eu tenho.

Uma profissão que me mostrou muito sobre tecnologia, acessibilidade e pessoas, principalmente pessoas.

 

Início

 

Em 2010 um amigo com deficiência visual foi contratado para atuar como telefonista em um importante hospital da região metropolitana de porto alegre.

Eles já haviam contratado outro rapaz alguns dias antes mas faltava o leitor de telas e algumas dicas de instalação e uso.

E foi aí que eu entrei.

Esse amigo então me pediu uma força e fiz um cd contendo o nvda e um leiam-me repleto de notas e dicas para deixar o leitor em ponto de bala para trabalhar.

 Os gestores gostaram do nosso empenho e então fui convidado a também atuar com eles e resolvi aproveitar a oportunidade que se abria, eu fazia recolhimento de resíduos hospitalar em um outro hospital perto de casa, trabalhava a noite e seguramente ganhava quase o dobro do que ganhavam os amigos daquela telefonia, sem falar que o hospital deles era em uma outra cidade, consideravelmente longe de onde eu morava.

Em um bom dia se poderia chegar no trampo depois de pouco mais de uma hora e meia andando de onibos e trem.

Ainda assim, sendo mais longe e ganhando menos, preferi trabalhar com os caras.

Achei a oportunidade desafiadora, até por que com recolhimento de resíduos não dá pra se usar leitor de telas né?

Se bem que eu gostava de recolher os filmes de raio x da Kodak.

Era Bacana mesmo.

 Tínhamos uma máquina com Windows 7 e 512 mb de memória RAM.

 512 mega bytes cara!

Ainda assim a máquina dava conta do recado,  com tudo cem por cento licenciado, o software de boa procedência ajudava a compensar o hardware fraco.

Foi assim que comecei a questionar esses programinhas de procedência duvidosa que infestavam minhas maquinas.

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Descrição da imagen, banner de divulgação do link patrocinado da amaxon, clique e ajude o tts, fim da descrição


Agora some isso ao trabalho que modestamente fiz de manutenção de sistema, e você não vai se espantar ao saber que trabalhamos com esse computador até o ano de 2015, ano em que fomos todos promovidos e transferidos para um hospital maior.

Entre 2010 e 2015 nossa máquina nunca foi para o reparo na t i, até então a equipe era bem pequena, e geral costumava fazer certinho o que eu pedia, éramos todos ocupantes do mesmo cargo. Mas eu cuidava legal do PC, dava alguns toques para os colegas, que seguiam de boa, e dava até pra curtir um “conteudinho diferente” nos plantões de fim de semana.

 Sabe como é né. Ninguém é de ferro.

Para o caso de você estar se perguntando, não, não havia nenhuma voz craqueada no CD para se usar com o NVDA.

Não se pode fazer um CD com esse tipo de coisa para uma empresa né gente?

Em 2010 já haviam boas opções de voz mas por não haver a possibilidade de compra e nem crack, tivemos mesmo foi que nos virar com o eSpeak, e isso na verdade foi libertador.

 

Aprendizado

 

Como eu ia dizendo, foi em uma máquina de 512 mega de RAM que comecei realmente a aprender sobre qualidade de software  e uso profissional da informática.

Essa mesma máquina me mostrou como o nosso gosto pode ser um tanto quanto limitador na hora de reconhecer a real qualidade das coisas.

É como se você na adolescência só curtisse polca até que um dia você se abriu para novas experiências e passou a curtir muito valsa, a ponto de não intender como pode ter curtido polca um dia, ou como pode ter passado tanto tempo sem valsa na vida.

Sacou?

Só estou usando esses gêneros musicais mais antigos por que não quero problema com ninguém que curta coisas mais recentes.

Só falta agora aparecer um reiter de polca nos comentários.

A i eu desisto.

Durante muito tempo vários de nós deixamos de usar o eSpeak por razoes estéticas e nos esquecemos de nos ater a qualidade e desempenho de sua locução.

A destreza desse mecanismo com o NVDA naquela maquina era surpreendentemente satisfatória a ponto de me fazer questionar o que fazia uma máquina muito mais fraca que a minha ter um desempenho assim tão bom.

Como vocês já podem perceber, a questão profissional do licenciamento de software  também foi muito forte para a pressão a se ter uma conduta mais ética no uso de programas.

Ao ser obrigado a não poder instalar qualquer coisa na máquina dos meus empregadores, fui obrigado a pensar e a procurar alternativas, e com isso, aos poucos fui deixando de instalar qualquer coisa nas minhas maquinas também.

 Bacana isso né?

Com o tempo passei a prestar atenção no comportamento de quem já trabalhava com isso na época, passei a olhar para quem dava suporte, fazia reparos e até ensinava informática com uma perspectiva diferente.

Passei a perceber as falhas de segurança e de ética deles, principalmente quando fui me aprofundando  nas questões ligadas a software livre e opensource.

E quando também percebi as limitações de gosto gerando preconceitos, dai larguei vários deles de mão.

 

Agenda

 

Voltando a telefonia, houve  a necessidade de se criar uma boa agenda de consulta que pudesse  ser acessada pelos colegas do time das deficiências visuais, como a compra de software estava fora de cogitação e a maquina era fraca, a solução foi trabalhar essa questão de agendas usando o bom e velho esquema de pastas e blocos de notas.

A partir daí essa agenda passou a ser alimentada de dados e virou uma grande agenda.

Você deve estar se perguntando, porque uma agenda assim nesses termos se já existia o Google?

Bem, vamos dizer que o Google em 2010 não era tão porrada assim, além do mais, o acesso a rede era um tanto quanto complicada.

Contudo, ainda em 2022 a agenda era utilizada e ainda era muito rica, foram mais de 10 anos alimentando ela com dados internos  de vários contatos que, a propósito, não se poderia encontrar no Google.

Perceberam a importância do trabalho humano na coleta, inserção e aproveitamento de dados?

Que potencial desperdiçado não é mesmo?


Pedidos de ligações

 

Não se tinha um software para gerir as ligações, bem na verdade havia um mas ele não era acessível.

Quem não tinha deficiência visual, poderia por exemplo, visualizar na tela se um ramal estava ou não ocupado, quando estava, o ramal ficava vermelho.

Muito bacana, uma pena mesmo não ser acessível.

Íamos na base da tentativa e erro mesmo, e tudo fluía muito bem, até que houve a necessidade de se criar uma forma de se registrar as ligações que eram pedidas pelos outros setores e feitas por nós.

Assim surgiu o “pedido de ligações”, uma tabela gerada no word 2003 para registrar esses dados.

Novamente tive que pensar em uma solução que levasse em conta nossa máquina e as possibilidades de custo zero, assim, como o sistema tinha essa versão do office instalada, fiquei uma tarde bolando uma forma de criar algo respeitável para ser acessado pela direção, mas que fosse também, legível e fácil de operar pelos colegas.

Depois que criei o primeiro modelo, ensinei cada colega a preencher a tabela e em uma questão de horas, já estávamos lançando  esses novos dados.

A tabela possuía os seguintes campos:

Nome do solicitante, nome de quem estava pedindo a ligação.

Ramal, o ramal do setor de quem estava solicitando.

Numero, o numero solicitado.

Atendente, o nome do profissional que fez a ligação e preencheu esses dados.

Nesse campo do atendente também ia a hora do atendimento.

Este recurso de controle de ligações também durou até 2015, após  esse período todas essas boas práticas foram se perdendo, e por inúmeros fatores que estavam acima de nós.

Como vocês devem saber, é atribuição de uma telefonia dispor sobre a conta telefônica, gerando relatórios, fornecendo dados, atuando através das boas práticas da telefonia para a diminuição de custos do setor, ocorre que a última vez que fomos apresentados a esses dados foi em uma reunião no fim de 2013.

Agora, como falar de telefonia  e VoIP, de telefonia online e remota, se não se tinha mais espaço para isto?

O caos estava tomando conta do setor e falar sobre a evolução do PABX estava fora de cogitação.

Desenvolvo um pouco isso no vídeo , não esqueçam de acompanhar , é importante.

 

Epilogo 

 

Vivemos todos nós um drama na aria, um drama que se iniciou, vejam vocês, com nossa promoção em 2015 , tudo parecia ir bem, e foi, fomos para um hospital maior, com mais infra instrutura, uma nova gestão.

A aria de saúde viveria uma turbulência terrível cujo episódio se encerraria com a demissão de muitos de nós e o não recebimento dos direitos de todos, tanto dos demitidos, quanto dos que ficaram.

Uma tragédia que dura até os dias de hoje porém, novos ventos sopraram e hoje estou feliz atuando no setor de transportes.

E estou trazendo mais acessibilidade e inclusão pra cá, pois veio comigo toda essa bagagem  da saúde junto.

Nosso início de trajetória foi marcado por gestores que estavam muito focados em fazer aquela precariedade toda dar certo, e ainda por cima, interessados em promover a inclusão através de nós, e eles conseguiram , hoje olho para o que foi feito e para a experiência que tive e me sinto muito grato.

 Grato pelas pessoas que conheci, pelas coisas que aprendi e por ter sustentado minha filha durante todos esses anos atuando nesses 3 hospitais.

No vídeo que se seque, sustendo que a telefonia não está morta, acompanhe a tese a seguir e fique a vontade para deixar sua contribuição respeitosa a mais esse ponto que levanto aqui no TTS.

Como todos os meus ex colegas, ainda não recebi meus direitos por todo aquele tempo que trabalhei lá, mas sigo fazendo direito e ainda melhor tudo que lá aprendi.

Uma hora a verba vem e aí a gente encerra de vez esse ciclo.






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