sábado, 22 de outubro de 2022

Fedora lutando o bom combate da inclusão

 

Descrição da imagens, tela de boas vindas do Fedora, composta por uma arte cartunista onde estão dispostos alguns elementos, tais como.o uma caixa, um monitor, teclado, mause, xícara de café, na tela do monitor está o ícone do Orca com um X vermelho nele, fim da descrição.
Boas vindas do Fedora bloqueando o leitor de telas, arte, Neimar borges da Silva, blog tts supremo

Acompanhar o desenvolvimento das mais diversas tecnologias opensource é uma das paradas mais bacanas de se fazer no Linux.

Uma distro, é a junção de inúmeros projetos independentes que trazem consigo todas essas novas tecnologias e abordagens, algo que no Fedora é ainda mais enfatizado, em função das características desse sistema.

Agora perceba que todos esses projetos, suas tecnologias e abordagens, poderiam ser também uma base fabulosa de testes na acessibilidade, com ferramentas como o Orca lidando com tudo isso, porém, no caso do Fedora, as barreiras ainda são muito grandes, e é sobre isso que vamos conversar.

Neste ano a Red hat fez um movimento muito importante em direção a uma melhor acessibilidade em seus sistemas, contratando Lukas Tyrychtr, um engenheiro do time da cegueira total, e que pretende liderar os esforços da empresa, para tornar suas soluções mais acessíveis sob o ponto de vista das deficiências.

Nesse sentido Lukas tem um desafio e tanto, já que existe um acúmulo de barreiras legadas do  Gnome, além é claro, das próprias barreiras colocadas no caminho pelo próprio Fedora, uma missão árdua e sem dúvidas bem desafiadoras para ambos os lados

Essa notícia saiu há alguns meses atrás mas confesso que apesar de alguns muitos temores, elas ainda me empolgam, mesmo que meus testes preliminares do Fedora 37 sejam ainda muito desmotivadores.

 

Inclusão.

 

É preciso lembrar que pelo que foi ventilado, Lukas Tyrychtr vai "liderar", o que nos leva a crer que o cara não esteja sozinho nessa empreitada, uma noção que já me deixa mais aliviado.

A preocupação com a acessibilidade é um grande passo em direção a inclusão, mas o ideal de inclusão só se realiza quando temos pessoas e suas características diversas, podendo acessar juntas há um mesmo ambiente e assim somarem.

Uma noção que fica mais clara quando encontramos exemplos de iniciativas onde pessoas com e sem deficiências, conseguem acessar e trabalhar juntas em torno de um bem comum.

Note que não se trata aqui de ajudar necessariamente um PCD, é óbvio que ajudar é um grande marco de civilidade, mas não se trata de ajudar um grupo específico de pessoas, e sim de lutar por um ideal de inclusão, explico.

Uma pessoa com deficiência visual, parada diante de um semáforo, pode estar à mercê da solidariedade alheia, e o nosso dia a dia demonstra que essa espera pode ser mais demorada que o que deveria, uma relação de dependência que diminuiria muito se o semáforo possuísse sons de aviso.

Perceba que essa noção de dependência diminui, mas nunca zera, um aspecto de nossa saga como seres vivos, mas que fica muito evidenciada nas pessoas com algum tipo de deficiência, de maneira que torço muito para que LukasTyrychtr tenha sido verdadeiramente incluído na comunidade, com todos os seus atores trabalhando juntos por um sistema mais eficiente e inclusivo.

 

Acesso dificultado.

 

Se Lukas Tyrychtr for meramente um contratado sua missão estará fadada ao fracasso, podendo torná-lo apenas mais um cego chato reclamando da falta de acessibilidade do sistema sem sequer intender ao certo o que está de fato acontecendo com ele, uma situação que ocorre frequentemente conosco, em sistemas e comunidades ao redor do mundo.

Quando um sistema te dá acesso parcial a ele, nós realmente não temos a totalidade das coisas, algo que pode sim comprometer nosso julgamento como pessoas com deficiências, mas não é nosso julgamento que está errado, ele só foi induzido ao erro pelo próprio sistema com seu acesso parcial.

Se cegos ficarem tentando resolver sozinhos essas falhas, eles vão fracassar

Se pessoas sem deficiências ficarem sozinhas tentando resolverem essas falhas, também é bem possível que fracassem, mas se houver inclusão, se o trabalho for mútuo, essas margens de erros poderão cair vertiginosamente.

 

Barreiras arquitetônicas.

 

O Fedora 37 traz de pronto duas graves barreiras no campo da acessibilidade, o acesso ao instalador com o Orca, e sua janela de boas vindas, que mais parece um muro para quem usa ferramentas assistivas, qualquer que seja ela.

Na janela de boas-vindas do Fedora não é possível utilizar nenhuma ferramenta de inclusão digital, e para piorar as coisas, não dá pra chegar ao sistema sem antes passar por ela, o que a torna uma barreira quase que intransponível.

Você pode ser engenheiro, com PHD, você pode ser um gênio da informática, não importa, se você for cego, uma "linda janela" de boas-vindas vai te forçar a ser ajudado.

"Forçar a ser ajudado".

Existem também as novas tecnologias que o Fedora sempre costuma trazer, uma oportunidade muito boa que temos de sermos colocados em contato com elas e talvez até tentar ajudar em seu desenvolvimento, muitos desses projetos ainda carecem de uma maior presença nossa neles, mas como ser presentes em projetos como o protocolo Wayland?

Antigamente não se via cadeirantes pelas ruas, mas depois de seu acesso ao transporte também ter sido garantido, eles hoje estão por toda a parte, é fato que as coisas precisam melhorar ainda mais, inclusive com a ampliação da frota de transportes acessíveis, mas o caso é que os cadeirantes hoje estão por aí e talvez isso explique a pouca quantidade de cegos transitando por esses projetos mundo a fora.

 

Barreiras atitudinais


A maneira como pensamos determina nossa forma de agir e nossa mente precisa ser estimulada frequentemente para poder ampliar nossa percepção de mundo.

Você já deve ter ouvido falar naquele sintoma que faz com que muitas vezes as gravidas passem a perceber outras grávidas por toda parte, ou então, a teoria da invisibilidade sossial, que faz com que sertos aspectos de nossa saga humana passem desapercebidos por nossa própria percepção de mundo, pois bem, estou escrevendo um artigo dedicado às barreiras atitudinais, relacionando essas barreiras com algumas ocorrências no mundo Linux.

Está sendo um artigo difícil de escrever, com um esforço muito grande para poder demonstrar o quão sem qualidade uma iniciativa fica quando não leva em conta a acessibilidade, um erro que, ao que parece, a Red Hat não está querendo mais cometer.

Quero lembrar mais uma vez que a iniciativa dos caras está ainda no início e que por isso devemos ser pacientes, no vídeo que se segue, faço uma demonstração das duas barreiras técnicas que já descrevi antes nesse artigo.

Você vai perceber que não estou muito a vontade, afinal de contas, não é fácil apontar essas coisas de uma empresa tão bem conceituada, mas vá lá. 

Com tudo isso o Fedora é um belo sistema, com uma comunidade muito bacana e por essa razão, não vejo a hora de poder dizer que ele é "tão bem feito" que até nós os  cegos podemos  usar.

 


 

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