Orca
Esta é a
minha menina dos olhos,fonte de pesquisas e trabalhos, atualmente,com o advento
do Órca,todo um novo universo surgiu,com novas formas de se trabalhar com a
informática,tanto em seu uso domestico,quanto em suas aplicações profissionais.
Tenho
trabalhado ultimamente na elaboração de uma dinâmica cujo propósito seria de
apresentar conceitos e praticas avançadas de informática para cegos e
deficientes visuais em geral, e o Órca tem sido extremamente importante para
este fim, no entanto, não é necessário conhecimentos muito profundos para
manuseá-lo,com uma boa orientação inicial,é possível tirar,com o Órca, em
Linux,as mesmas vantagens que tiramos com outros leitores de tela,em Windows.
Acompanharemos agora um trecho de uma
entrevista feita com Tiago Melo um importante colaborador deste projeto:
Durante muito tempo existiu uma lenda (dentre
muitas!) na área de informática que um computador com GNU/Linux no Brasil não
era sinônimo de acessibilidade. Uma das razões para tal crença estava ligado ao
fato de que muitas pessoas ainda não conheciam o leitor de tela para deficientes
visuais denominado de ORCA, do Desktop GNOME (ambiente desktop do GNU/Linux no
qual o ORCA está inserido).
Contudo, graças ao esforço da equipe
brasileira de tradução do Projeto GNOME, essa lenda urbana já está se diluindo.
Afinal, juntamente com todo Desktop GNOME, o ORCA já é 100% traduzido para o
português brasileiro e, assim, já pode
ser utilizado por qualquer deficiente visual em nosso país que tenha acesso a
um computador com uma distribuição do
GNU/Linux com o ambiente GNOME instalado.
Em especial, esse esforço de tradução
só foi possível porque o principal responsável por esse trabalho com o ORCA é um deficiente visual, nascido na
Bahia, de nome Tiago Melo Casal. Além de revisar a tradução do Orca a cada
lançamento de forma voluntária, Tiago usa o aplicativo todos os dias e está em
contato com vários outros cegos que usam software livre no Brasil e no
mundo. Para mostrar um pouco do trabalho
realizado por Tiago, o ex-coordenador da equipe de tradução do GNOME Brasil -
Leonardo Fontenelle - fez uma bela entrevista com ele, onde parte dela pode ser
conferida abaixo:
LEONARDO - Começando pelo começo: Você
poderia falar um pouco sobre você mesmo?
TIAGO - Sou Tiago, Brasileiro, nasci
em 18 de Julho de 1985 em Salvador capital do Estado da Bahia. Sou cego, nasci
com Retinose Pigmentar. Atualmente moro no Estado do Ceará, com minha
companheira que também é cega. Diariamente utilizo computador, Orca, GNOME e
Linux.
Por volta de 2002/2003, ouvi falar em
Linux, em Software Livre e Open Source, me interessei e comecei a procurar e
ler na internet textos sobre o assunto. Na época, não havia para Linux recursos
de acessibilidade voltados para a realidade dos cegos brasileiros, como síntese
de voz (via software) em Português. Havia leitores de tela para modo texto,
utilizando síntese de voz via Hardware ou utilizando Linhas Braille,
equipamentos que não eram comuns no Brasil. Por outro lado, os softwares de
síntese de voz em sua maioria só falavam em Inglês. Leitor de telas para o
ambiente gráfico, eu desconhecia.
Comecei a utilizar o Linux com o Linvox
em 2004, um projeto brasileiro que trazia num LiveCD o Linux Kurumin com o
Dosvox funcionando através do WINE. O Dosvox é um conjunto de programas para
cegos com síntese de voz em Português (via software), como Editor de Textos,
Navegador de Internet, Cliente de Correio Eletrônico, Telnet Falado e outros
programas, inicialmente era para ambiente DOS e depois passou para ambiente Windows,
por isso a necessidade do WINE, eu utilizava o Shell no Linux através do Telnet
Falado do Dosvox.
Em 2006 criei a lista de discussão
Linvox no Yahoo Grupos, onde diversas pessoas trocam experiências sobre
Acessibilidade no Linux.
......
A autonomia dos cegos melhorou com
toda a infra-estrutura de Acessibilidade desenvolvida no GNOME, com os leitores
de telas para aplicativos em GTK+, principalmente com o Leitor de telas Orca. O
Orca fez a diferença e o GNOME tornou-se referência de Ambiente Gráfico
Acessível. A primeira distribuição Linux que trouxe o GNOME com Orca e uma
maneira simples de um cego iniciar o LiveCD, utilizar o sistema e instalá-lo
sem a ajuda de alguém que enxergue, foi o Linux Ubuntu. Comecei a utilizar o
Orca com voz em Espanhol em 2006, em 2007 já foi possível utilizar o Orca com
fala em Português, graças ao eSpeak, software de síntese de voz com fala em diversos
idiomas. De lá para cá, o GNOME e o Orca só têm evoluído, aplicativos em GTK+
têm melhorado a acessibilidade, como o Firefox que deu um grande salto em
Acessibilidade com a versão 3.0.
.......
LEONARDO - Além do Orca, quais outras
qualidades da acessibilidade do GNOME? E o que é que precisa melhorar?
TIAGO - No geral, o GNOME é muito
acessível, com desenvolvimento ativo da infraestrutura básica de acessibilidade
— ATK/AT-SPI —, do leitor de telas Orca e de outros projetos da área. Em
específico para meu caso e das pessoas que não enxergam, podemos utilizar mais
de 80% do GNOME em conjunto com aplicativos em [ou que interagem com] GTK2,
como: Nautilus, GEdit, Editor de textos do OpenOffice/BROffice,
Firefox/Iceweasel, gnome-terminal, Adobe Reader, Brasero, e outros.
A acessibilidade do GNOME está
disponível para os aplicativos escritos em GTK2 e utilizando o ATK/AT-SPI, a
inacessibilidade aparece quando um aplicativo é desenvolvido sem vínculo com o
ATK/AT-SPI e em aplicativos antigos desenvolvidos em GTK1.2 ou anterior. Uma
das maneiras de evitar que a acessibilidade seja esquecida seria embutir no
GTK+ o código do ATK/AT-SPI. [Nota: o GAIL, que fazia a ponte entre o ATK, foi
incorporado ao GTK+ em dezembro de 2007.]
LEONARDO - Você estava falando do
LiveCD do Ubuntu. Quais são, hoje em dia, as distribuições mais acessíveis aos
cegos, tanto para uso cotidiano quanto para instalação?
TIAGO
- Vou citar algumas distribuições Linux, sendo que eu direi sobre
facilidade ou dificuldade tendo como base a utilização por cegos brasileiros,
que na sua maioria não têm acesso a hardware de síntese de voz ou Linha
Braille, portanto necessita de síntese de voz via software. Para iniciante, eu
considero até o momento o Ubuntu a distribuição mais fácil para começar a
utilizar o Linux, é possível o cego sem ajuda de alguém que enxerga utilizar
via LiveCD, instalar e utilizar diariamente; outra distribuição boa é o
Mandriva, também dá para utilizar pelo LiveCD, instalar e utilizar diariamente.
Tem também o OpenSolaris, um Unix acessível, dá para utilizar pelo LiveCD,
instalar e utilizar diariamente.
Voltando para as distribuições Linux,
o Fedora 11 veio com GNOME e Orca, vem com um soft de síntese de voz com uma
fala em inglês, é uma voz muito boa, mas como só trouxe um idioma, o que
dificulta na instalação por pessoas falantes de outros idiomas, após instalar o
Fedora 11 e instalando posteriormente falas no idioma de quem está utilizando o
sistema, resolve a questão, mas se já tivesse falas em outros idiomas no CD,
como o software eSpeak, seria bem melhor. Um amigo testou o OpenSuSE, no geral
ele gostou da acessibilidade. É possível utilizar o Slackware, mas no momento é
necessário a ajuda de alguém que enxergue na instalação, até que o cego possa
utilizar o sistema com algum leitor de tela de modo texto ou um gerenciador de
janela em GTK2 com o Orca.
Atualmente eu utilizo o Debian, por
enquanto o instalador texto não tem software de síntese de voz (só síntese via
hardware ou Linha Braille), mas tudo indica que está caminhando para isso na
próxima versão, se realmente acontecer será um diferencial muito importante de
outras distribuições. Existem e existiram distribuições Linux específicas para
cegos, como o Oralux que foi descontinuado, atualmente tem algumas distribuições,
mas o interessante é que as grandes distribuições integrem os recursos de acessibilidade
disponíveis.
No geral, penso que qualquer
distribuição que tiver instalado um software de sínteze de voz (prefiro o
eSpeak porque tem fala em diversos idiomas), tiver um leitor de tela de modo
texto e tendo o GNOME como gerenciador de janelas (que já vem com o Orca), já
dá para um cego utilizar o sistema, dá também se o gerenciador de janelas for
em GTK2 (LXDE ou XFCE, configurando algumas variáveis dá para ter
acessibilidade).
LEONARDO - Então o eSpeak tem uma
opção de voz para português do Brasil? Eu ia mesmo perguntar quais são as
opções de síntese de voz para brasileiros. O Dosvox, imagino, não funciona com
o Orca.
TIAGO
- Falando mais um pouco sobre o TTS (Texto para Fala) eSpeak: as regras
do eSpeak para falar em português do Brasil foram implementadas pelo amigo
Cleverson Uliana (em outubro/novembro de 2006), permitindo a utilização do Orca
e outros leitores por mais pessoas no Brasil, antes da tradução do eSpeak para
Português do Brasil utilizávamos o TTS Festival com fala em Inglês ou Espanhol,
existia uma fala para o Festival em Português mas não era de fácil instalação e
com a dependência de um componente extra com licença restritiva.
Outro TTS com falas em Português do
Brasil é o MBROLA (Banco de dados de voz BR1, BR2 e BR3), a licença do MBROLA é
livre e restritiva em alguns pontos, a distribuição Oralux que foi
descontinuada, vinha com fala em alguns idiomas e em Português utilizando o
MBROLA. Atualmente está em desenvolvimento o Banco de Dados de Voz BR4 em
MBROLA, fala conhecida como Liane TTS, em desenvolvimento pelo Serpro (Serviço
Federal de Processamento de Dados) e pelo NCE/UFRJ (Núcleo de computação Eletrônica
da Universidade Federal do Rio de Janeiro), é uma fala Brasileira com
qualidade; também está em desenvolvimento um driver para a utilização da Liane
TTS com o GNOME e o Orca, sendo testado pela comunidade com êxito; a Liane TTS
também é utilizada pelo Dosvox no Windows.
Se a pessoa desejar, pode utilizar o
eSpeak como interface para se utilizar as falas do MBROLA, como as falas
Brasileiras BR1, BR3 e até a BR4 (Liane TTS), utilizar as
falas em outros idiomas do MBROLA, também as regras para o Português do Brasil
foram feitas pelo Cleverson Uliana, com isso, pode-se utilizar o MBROLA via
eSpeak com o Orca e outros leitores, no Linux e no Windows. Há alguns softwares
de síntese de voz comerciais, cito o VoxIn por ser o melhor em minha opinião,
com opções de fala em diversos idiomas e pelo valor ser barato, custa em torno
de 5 euros a fala para cada idioma disponível.
O Dosvox é um conjunto de programas, é
desenvolvido no NCE/UFRJ, inicialmente era para DOS e depois passou para
Windows, tem uma síntese de voz própria e em Português, também pode utilizar
outros TTS em SApi4 e/ou SApi5 (sistema de fala da MS), e suporta Liane TTS.
Penso que existe um projeto para portar o Dosvox para Linux, mas por enquanto
quem gosta do Dosvox utiliza ele no Linux através do WINE, como é um sistema de
programas com fala não há necessidade de leitor de tela para os programas do
Dosvox, também como o WINE não é em GTK+ ele não é acessível para o Orca.
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